Camisa amarela, calção azul e um estilo irreverente de viver e jogar futebol. Uma descrição perfeita para a história da seleção brasileira… e para o Mamelodi Sundowns, uma equipe fundada em Pretória, capital administrativa da África do Sul, há pouco mais de cinco décadas. O time, apelidado de “Os brasileiros”, será o adversário do Fluminense nesta quarta-feira (25), às 16h (de Brasília), pela última rodada da fase de grupos do Mundial de Clubes.
Nas últimas semanas, a ESPN ouviu jogadores do elenco atual, ex-jogadores, torcedores e esteve presente nos dois primeiros duelos do clube no Mundial, contra Ulsan HD e Borussia Dortmund, para entender por que uma equipe sul-africana tem uma relação tão especial com o Brasil.
O Mamelodi Sundowns foi criado na década de 1960, com o nome de Marabastad Sundowns, e se tornou um clube profissional em 1970, no mesmo ano em que o Brasil foi tricampeão mundial. O uniforme com as mesmas cores da Canarinho fez com que o time ganhasse a alcunha especial: “The Brazilians” – em português, “Os brasileiros”. Apenas em 2003, quando o empresário bilionário Patrice Motsepe comprou o clube, o Marabastad se tornou Mamelodi.
Foi em 2006, sob a gerência de Motsepe, hoje presidente da Confederação Africana de Futebol, que o time de Pretória contratou o primeiro jogador brasileiro: Fábio Costa, um ex-meio-campista que foi revelado pelo Fluminense. A passagem durou pouco, apenas dez meses, por conta de uma lesão na coluna. Mesmo assim, ele classifica a experiência como “muito boa”.
“Recebi a proposta por meio de uma agência inglesa que tem uma relação legal com o clube e procurei saber como era. Não tinha muitas informações na internet. Eu estava com 29 anos. Estava no Caracas, da Venezuela. Eles me acolheram muito bem, me colocaram em uma casa boa para morar, pagamento sempre em dia”, contou, à ESPN.
“Quando os treinos acabavam, o Patrice Motsepe me chamava e falava que a ideia era levar mais brasileiros, que era apaixonado por nós, para fazer um time competitivo. Eles acompanham o futebol do Brasil. A torcida queria que tivesse mais brasileiros”, completou.
Apesar do desejo dos torcedores e a paixão pelo país da América do Sul, o Mamelodi Sundowns não teve muitos jogadores brasileiros ao longo da história. O zagueiro Ricardo Nascimento foi quem atuou mais tempo, entre 2016 e 2022, e virou ídolo.
“Eu tinha recebido proposta um ano antes, mas nem conhecia o mercado da África do Sul. Não queria ir, rejeitei. No outro ano eles voltaram. O treinador da época teve reunião comigo, insistiu, falou que o país era bom. Mas eu estava na Europa (Académica, de Portugal), tinha 29 anos, queria continuar ali. Ele e meu empresário me convenceram e foi a melhor decisão que tive na carreira”, afirmou.
“Eu descobri da relação com o Brasil só quando cheguei lá. Já havia a semelhança do uniforme e eles falavam muito de ‘The Brazilians’. Eu fui perguntando e comecei a perceber que eles gostavam do futebol brasileiro. O jeito que me acolheram foi muito bom”, seguiu.
“O Sundowns tem um amor maior pelo futebol brasileiro. O dirigente da época (Patrice Motsepe) sempre falava muito sobre o Brasil para mim, que passava férias aqui. Me ajudou muito [ser brasileiro lá]. Todas dificuldades que eu tive sempre tinha alguém para ajudar, um carinho, tiveram um cuidado maior para apoiar”, completou.
Ricardo Nascimento, inclusive, esteve no elenco que disputou o primeiro Mundial pelo clube, em 2016, mesmo ano em que o Mamelodi ganhou o único título da Liga dos Campeões da CAF. A equipe foi eliminada no primeiro jogo, para o Kashima Antlers, do Japão, após derrota por 2 a 0.
Como é jogar em um time “brasileiro” na África do Sul
O elenco do Mamelodi Sundowns que disputa o Mundial deste ano, o segundo de sua história, conta com dois brasileiros: o atacante Arthur Sales e o meia Lucas Ribeiro. O meio-campista, aliás, é dono da camisa 10 e foi autor do gol que abriu o placar na derrota por 4 a 3 para o Borussia Dortmund, na última rodada. Eles falaram com a ESPN ainda antes do início do torneio e contaram como é representar um clube quase brasileiro na África do Sul.
“Uma vez eu encontrei aqui com o dono do clube (Patrice Motsepe) e ele sempre deixa bem claro que adora o Brasil, sempre está no Brasil. E para mim, que sou brasileiro, escutar isso é incrível, porque é um time da África e ele ama tanto o Brasil. É o mesmo sentimento que a gente sente”, destacou Arthur Sales.
“Acho que é o nível mais alto que eles podem sonhar. É um Mundial de Clubes, com os melhores jogadores, os melhores times. Todo mundo está muito emocionado para ir bem, para ter uma oportunidade melhor. Sobre o confronto contra o Fluminense, eu acho que vai ser um jogo muito legal de assistir. Acho que vai ser um jogo de nível bem parecido. Vai ser onde as pessoas vão enxergar o futebol africano e o futebol brasileiro”, analisou.
O meia Lucas Ribeiro virou até “consultor” sobre o Brasil para os membros do clube.
“Eles falam muito, sempre quando eu estou conversando, do Rio de Janeiro, de querer passar férias lá, de Copacabana e tudo o mais. Praticamente sabem quase de tudo, mas particularmente mais sobre os jogadores e os clubes”, contou.
“Quando eu fui contratado, meus familiares e amigos falaram: ‘Lucas, essa camisa é parecida com a da seleção brasileira’. Porque realmente eles [no clube] gostam muito do Brasil, principalmente da seleção. Realmente eles são muito fãs da nossa cultura. É muito legal ver um clube botando as nossas cores e demonstrar o quanto é fã da nossa seleção e do nosso futebol”, concluiu.
O céu é o limite
O escudo do Mamelodi Sundowns também tem o verde e o amarelo do Brasil, mas uma frase em inglês se destaca: “The sky is the limit” – em bom português, “O céu é o limite”.
“A frase é uma inspiração para o clube, por não ser o maior em torcida. Veio para dizer para sempre buscar o impossível”, contou Ricardo Nascimento.
Acima da frase, há o desenho de uma mão em um formato de “L”. A ESPN apurou com pessoas ligadas ao clube que o símbolo é uma mão apontando para o céu. O gesto é muito usado por torcedores e jogadores em comemorações.
A torcida, relembrou Ricardo Nascimento, costumava também levar bandeiras do Brasil para as arquibancadas.
“Nós nos identificamos com o Brasil. O Brasil se identificou conosco”, disseram torcedores do clube à ESPN. “Somos os brasileiros da África do Sul”.
Disputa por vaga contra o Fluminense
O Mamelodi Sundowns chega vivo à última rodada fase de grupos do Mundial de Clubes e sonhando com a classificação às oitavas de final. A equipe venceu o Ulsan HD por 1 a 0, na estreia, e perdeu para o Borussia Dortmund, no segundo jogo, por 4 a 3. Com três pontos, está na terceira colocação do grupo, atrás de Fluminense e Borussia Dortmund, cada um com quatro. Uma vitória diante dos cariocas dá a vaga aos sul-africanos.
“Acho que alguns de nós realmente assistem aos jogos e, para ser honesto, encaramos cada duelo como único. Vamos revisar nosso jogo e corrigir o que for necessário para a próxima partida”, disse Thapelo Morena, lateral da equipe.
“Vamos dar o nosso melhor, especialmente nesse jogo, porque é o duelo que vai determinar tudo para nós”, completou.
Onde assistir a Mamelodi Sundowns x Fluminense no Mundial de Clubes?
Mamelodi Sundowns x Fluminense, às 16h (de Brasília), terá transmissão ao vivo pela CazéTV, disponível sem custo adicional no Disney+.